A humanidade está repleta de exemplos e histórias de como encarar situações sem precedentes e encontrar soluções e evoluções. Um caso fascinante envolve o contexto da construção de um farol de navegação marítimo chamado Bell Rock, feito entre 1807 e 1810, por Robert Stevenson.
Por Andre Almeida, CEO na Dom Rock
O objetivo do farol, é criar referencias seguras de navegação costeira, de aproximação e, consequentemente, preservar vidas e embarcações. No caso do Bell Rock, o desafio começou de forma completamente fora dos modelos tradicionais até então conhecidos e dominados à época. Por causa das rotas percorridas por embarcações, o trecho navegável possui uma rocha que, de acordo com as marés, pode ficar submersa ou superficialmente exposta. Essa rocha, deveria, portanto, ser evitada de qualquer forma, pois sem o devido reconhecimento de sua existência, fazia com que embarcações e vidas se perdessem ali naquele ponto. A solução, portanto, era usar essa rocha como base para construir um farol e assim sinalizar o melhor caminho até o porto destino de forma segura.
A construção, porém, não era trivial. Afinal, não existia registro de obras similares para que se pudesse aproveitar. Além disso, técnicas, materiais, logística e metodologia de trabalho e conhecimento existentes desafiavam a viabilidade de tal empreendimento.
Robert Stevenson, como engenheiro experiente, sabia exatamente das limitações, mas tinha a motivação e convicção de que a solução era um farol ali, naquela rocha mesmo. E sua jornada de convencer a todos é tão fascinante quanto a própria obra. Como construir um farol em uma rocha que está sempre sujeita a condições de marés, como viabilizar materiais, técnicas e logística que antes nunca ninguém tinha feito? A que custo? É um projeto viável? Ou um retumbante fracasso?
Hoje, mais de 200 anos depois, a história mostra que valeu a pena insistir em resolver um problema sem precedente. O farol Bell Rock foi construído e cumpriu sua missão. Foi um projeto de alta complexidade à época e fruto de inovação. Como parece ser comum em inovação, tudo se estabelece em acreditar que o problema pode ser resolvido, inovar, portanto, é a solução e não o objetivo.
Atualmente, a era da transformação digital é um cenário que se apresenta para organizações, públicas e privadas, em lidar com uma quantidade de dados que cresce exponencialmente a patamares nunca antes experimentados pela humanidade. De acordo com vários relatórios publicados nos últimos anos, tão importante quanto lidar com o volume de dados é lidar igualmente com a variedade de dados e o comportamento altamente dinâmico. O consenso global aponta para mais de 90% do volume recai na categoria chamada de dados não estruturados.
O processo de decisão, portanto, está intimamente ligado ao desafio de lidar com a complexidade de um problema de gestão sem precedentes ao encarar a necessidade de tratar, organizar, consolidar, processar grande quantidade de dados principalmente desestruturados e transações dinâmicas. Neste contexto, as organizações estão lutando para extrair informações, encontrar agulha no palheiro, tentando de alguma forma navegar pelo oceano de dados não estruturados, muitas vezes utilizando a abordagem tradicional. Mais especificamente, trabalhar com BI e suas variações, planilhas e outras ferramentas manuais, soluções que foram desenvolvidas em algum momento para lidar com dados estruturados apenas. Essa abordagem provoca uma serie de pensamentos de gestão organizacional, se o paradigma atual predominante é de que o mundo digital é uma questão de tecnologia da informação e, portanto, todas as demandas organizacionais recaem sobre a área de tecnologia da informação, então o resultado é a criação de um intermediário e gargalo no processo de resolver o problema, sem mencionar o fato de tentar usar modelos conhecidos tradicionais pela lógica de que já se tem domínio e experiência. O efeito que se observa é nítido, enquanto as demandas não param, a lista de pendências nas áreas de tecnologia da informação aumentam e as áreas de negócios tentam resolver com mais gente, consultorias externas e terceirizações, sem ainda, endereçar de forma produtiva, assertiva e de baixo custo a necessidade de obter informação relevante.
Portanto, tal qual a motivação de construir o farol Bell Rock, é imperativo resolver o problema de dados na atual era chamada por muitos de transformação digital e, mais ainda, é visível que ferramentas tradicionais não serão as soluções. É preciso inovar.
A inovação tende a ser uma evolução continua que necessita lidar com o problema como se apresenta, com a capacidade de capturar os dados na sua origem e forma, ou seja, 90% não estruturado, sem, entretanto, desconsiderar os 10% estruturados, de forma dinâmica que surgem, principalmente, de transações de comercio eletrônico, mobilidade, sensores, redes sociais, dentre outros. Capturar não é suficiente, é necessário, ainda mapear, consolidar e desenvolver modelagem de lógica de negócios que permitam de forma fácil e com alta flexibilidade combinar os mais diversos tipos de dados capturados e prover respostas rápidas e assertivas. Por fim, a disseminação das informações deve ser de fácil acesso, simples, assertiva e, consequentemente, com alta produtividade e baixo custo.
A atual rocha que exige um farol, está submersa na rede mundial de fluxo de dados, em redes. Não se trata apenas de tecnologias, mas de uma nova ordem econômica e de gestão. A inovação em lidar com esse problema sem precedente passa, inevitavelmente, por criar novos modelos que inevitavelmente passa pela destruição criativa.
Referências sobre Bell Rock:
Imagem Bell Rock: https://www.truehighlands.com
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